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Mixed races in the constitution of the brazilian soul

Mixed races in the constitution of the brazilian soul

Vera Valente
Psicóloga, analista junguiana, membro da SBPA

Mixed Races in the constitution of the Brazilian Soul – uma análise simbólica do livro Casa Grande e Senzala de Gilberto Freire

Resumo do trabalho apresentado no XXVIII Congresso da IAAP que aconteceu em agosto em Montreal, Canadá.

O antropólogo Gilberto Freire é considerado um dos grandes intérpretes do Brasil. Afastou-se da aplicação não criativa de modelos teóricos da ciência européia, conseguindo escrever sobre a especificidade da formação histórica brasileira. Seu principal livro, Casa Grande e Senzala de 1934, identifica e analisa nosso povo e nossa cultura mestiça, fruto de particular e intensa mistura entre o indígena, o europeu e o africano. Latifúndio e escravidão, casa grande e senzala, pilares da sociedade colonial brasileira. Para Freire, nossa mestiçagem não era um defeito, uma falta, mas a particularidade da alma brasileira. Com toda sua sensibilidade  Freire faz uma análise desta miscigenação no Brasil e de suas conseqüências não apenas na vida cultural, mas principalmente no plano simbólico.  Para além das relações de poder estabelecidas,  identificou na diversidade uma criatividade, ao invés de um obstáculo.. Hoje suas idéias compõem o imaginário do brasileiro.

Nosso trabalho é uma leitura simbólica do livro Casa Grande e Senzala.  Através dos caminhos abertos pelo olhar feminino de Freire, procuramos identificar o politeismo presente em nossa cultura, os nossos mitos e símbolos particulares e a criatividade que esta miscigenação étnica e cultural permite. A anima, arquétipo do feminino e dos relacionamentos e que nos propicia a aproximação com o que nos é diferente, é uma presença marcante nesta nossa sociedade retratada pela linguagem também feminina de Gilberto Freire. O trabalho procura ampliar a simbologia das diferentes imagens com as quais o feminino é retratado no livro, nas figuras da índia e da negra, mulheres que marcaram uma dinâmica nos nossos relacionamentos. Através de seus primeiros contatos com os europeus , foram as responsáveis pela formação da sociedade brasileira. A índia, com toda sua sensualidade atraente ao português recém-chegado, transformou-se rapidamente em um importante agente comunicador e de troca cultural, casando-se com o estrangeiro e constituindo famílias. Já a negra representa o símbolo de toda a ambiguidade que as relações de poder estabeleceram no Brasil da Casa Grande.: ao mesmo tempo que como escrava doméstica era  facilmente  colocada no lugar afetivo de mãe, ama de leite, confindente e amante, nunca de fato era legitimada enquanto esposa e jamais deixou de ser tratada como escrava. O & do título do livro ( Casa Grande & Senzala) é realmente o foco do nosso trabalho, pois assim como Freire procuramos falar desta união criativa , desta relação feminina de inclusão dos diferentes, mas não esquecendo porém de mencionar a manutenção das diferenças entre o senhor e o escravo , que jamais deixou de existir.. Consideramos essa reflexão importante tanto para nosso trabalho clínico no Brasil, quanto para  a elaboração de símbolos que apontam para o politeismo da alma do mundo e que emergem na nossa cultura contemporânea.