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Revista Junguiana 30/2

Revista Junguiana 30 – Diversidade




revista junguiana 30O Primeiro Tribunal de Júri

Maria Zélia de Alvarenga

O trabalho, a par de ser uma réplica ao texto do doutor Carlos Byington, representa uma leitura simbólica da terceira peça da trilogia de Ésquilo, A Oréstia. Destaca a importância da instituição do primeiro tribuna de júri, de como a escolha dos jurados se deu, de como Atená persuadiu as Fúrias a permanecerem residindo em Atenas, oferecendo- lhes templo, devoção e a condição de poderem ser representadas. Ressalta também a condição de ser o tribunal de júri uma solução para o conflito entre o dever e a devoção, pois o exercício do julgamento e a imposição de pena passam a ser da alçada do Estado de Direito e não mais do parente consanguíneo da vítima.

 

Imagens Invisíveis: Deficiência e Dança

Mara de Castro Oliveira

O objetivo deste artigo é refletir sobre a mobilização emocional que acontece quando assistimos à dança com pessoas com deficiência e como a disponibilidade ou não para lidar com essas emoções despertadas, seja do ponto de vista individual ou coletivo, faz perpetuar preconceitos e estereótipos ou transformar a compreensão da vivência da diversidade na alteridade. Essa reflexão foi realizada a partir de vivências da autora e da literatura sobre os temas deficiência, comunicação, dança, corpo e o mito de Hefesto. E aponta a dança como um meio de favorecer, não obstante ainda as dificuldades, a ressignificação da deficiência em nossa cultura.

 

As Maravilhas de Alice: Uma Jornada Heroica

Fernanda Aprile Bilotta

Sob a luz da teoria junguiana, os contos de fadas incluem temas relacionados à realização do ser humano. Assim, há uma busca do protagonista por seu centro, por sua unidade, ou seja, pelo Self. Situações, conflitos, personagens, fabulações, peripécias, entre outros elementos, correspondem a este processo da procura pela unidade interior. Assim, princesas, príncipes, bruxas, reis, rainhas, madrastas, profecias, provas e obstáculos simbolizam vivências existenciais, abrangendo situações éticas e sociais que são vividas e revividas desde os primórdios. Tais personagens representam o curso humano para chegar à autorrealização. Este artigo sistematiza um conjunto de análises sobre a personagem Alice, de Lewis Carrol, apresentada no cinema por Tim Burton, que retrata a jornada interior de uma jovem para descobrir quem é, além de definir (ou redefinir) seus valores ao enfrentar situações que lhe pedem, além de coragem, autenticidade. Sua trajetória retrata a jornada da heroína, que representa a transformação e ampliação da consciência, além da superação dos complexos maternos e paternos que dificultam o desenvolvimento do potencial de uma mulher.

 

Dom Casmurro no Divã – Um Estudo da Psicologia Simbólica Junguiana

Carlos Amadeu Botelho Byington

Por meio de sua genialidade literária, Machado de Assis, em Dom Casmurro, tece uma trama entre Bentinho, sua mãe, D. Glória, Capitu e Escobar, descrevendo a relação de amor, amizade, homoafetividade e ciúme, envenenados pela insegurança e as fantasias de adultério. Em meio ao mistério da dúvida, aflora um estudo profundo do complexo materno paralisante, da homoafetividade e do ciúme patológico.

 

Anima e Animus na Contemporaneidade

Michel Alexandre Fillus

O presente artigo objetiva a compreensão contemporânea dos conceitos de anima e animus, reunindo a opinião de vários autores e sintetizando pontos de convergência. A contemporaneidade expõe inúmeras formas de vivenciar a sexualidade e relações com o outro e, nesse sentido, o entendimento clássico do conceito de anima e animus apresenta lacunas importantes que precisam de reformulações. O artigo propõe a análise bibliográfica de autores na psicologia analítica, expondo pontos básicos de entendimento em relação ao conceito de arquétipo e de manifestação arquetípica de anima e animus. Há uma crítica constante à visão clássica em virtude do entendimento equivocado que confunde arquétipo com manifestação arquetípica. Conclui-se que a funcionalidade da manifestação arquetípica permanece vigente e que o arquétipo não é um depositário de estereótipos mas, em si, uma necessidade de polarização, sendo sua roupagem um fenômeno cultural.

 

O Elogio à Diversidade: Hogwarts, Uma Escola Promotora de Saúde

Fernanda G. Moreira e Luísa de Oliveira

Este artigo tem por objetivo fazer um estudo do caso de Hogwarts, a escola de magia e bruxaria presente nas histórias de Harry Potter, de autoria de Joanne K. Rowling. Os conceitos de promoção de saúde e de escola promotora de saúde participaram da delimitação do foco para a compreensão simbólica, realizada no referencial teórico da psicologia analítica. Foi utilizada a definição de promoção de saúde expressa na Carta de Ottawa (1986), redigida como conclusão da Primeira Conferência Internacional sobre a Promoção da Saúde. A compreensão simbólica destacou os dinamismos matriarcal e patriarcal que concorrem para o estabelecimento da alteridade na tentativa de aproximar as polaridades diversidade inclusiva e homogeneidade excludente, expressas extensivamente na obra de Rowling. A força dos símbolos explorados, demonstrada pelo impacto da obra, faz-nos acreditar na prontidão da consciência coletiva para a discussão profunda e realista do lugar da diversidade e da inclusão na vida escolar.

 

Diver-Cidade: A Pichação na Metrópole

Guilherme Scandiucci

O presente artigo inscreve-se em um debate acerca da diversidade presente nos fenômenos urbanos contemporâneos. Especificamente, debruça-se sobre as pichações, notoriamente presentes na cidade de São Paulo. Compreende-se a cidade à luz das concepções teóricas da psicologia analítica de Carl Jung e da psicologia arquetípica de James Hillman, sobretudo em suas ideias de alma e de anima mundi. Conclui-se que a pichação é expressão do patologizar da metrópole, ou sua alma in extremis.

 

Arte e Jung – A Obra de René Magritte

Irene Gaeta Arcuri; Paula Serafim Daré; Patricia Pires de Campos

O presente trabalho tem como objetivo fazer uma reflexão sobre o surrealismo à luz da psicologia analítica, tomando como base as obras de René Magritte. Traz uma revisão histórica sobre o surrealismo, fazendo um diálogo entre o movimento artístico e os conceitos junguianos. A pintura surrealista, procurando fixar as imagens oníricas, interpenetra o vivido com o sonhado e emerge como uma nova realidade. A obra de arte emerge como fotografia dos conteúdos do inconsciente, revelando aspectos do pessoal e do coletivo.

 

Um Método Perigoso: Entre Colombo e Galileu

Amnéris Ângela Maroni

Com base no filme Um Método Perigoso, de David Cronenberg, teço um olhar a respeito da aproximação, do conflito e da ruptura entre Freud e Jung ancorado no atrito entre dois modos de conceber o estatuto do conhecimento. A saber, Freud, que no filme se compara a Colombo – o descobridor de um continente desconhecido –, mantém-se fiel às concepções modernas da ciência e, portanto, atua de acordo com os limites do universalismo, enquanto Jung, que propõe ao primeiro o epíteto de Galileu – que, com o uso da luneta, propôs um novo modo de olhar o universo –, se revela um perspectivista, concebendo a descoberta de Freud como uma possibilidade interpretativa sobre algo que permite inúmeras outras. O universalismo, mantendo-se coerente consigo mesmo, é epistemicida, vale dizer, não suporta outros olhares, tomando-os por inimigos a serem dizimados. O perspectivismo, ao contrário, alegra-se com a criação de mais uma versão interpretativa. Tais modos de ser tão diferentes encontram-se, no filme, figurados pelos dois grandes investigadores do psíquico, e até mesmo o choque que permeia tal aproximação será distintamente concebido por Freud e Jung.