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Revista Junguiana 14

Revista Junguiana 14 – Freud & Jung – Esgotada

Editorial da Edição

O número 14 da revista Junguiana é de uma importância especial. Reflete um momento histórico onde as duas escolas mais significativas de psicologia fazem uma pausa e um encontro. Após anos de crescimento, nos quais conceitos e técnicas psicoterápicas foram estudados e desenvolvidos, analistas freudianos e junguianos se reuniram pela primeira vez para discutir temas vitais sobre a psique e sobre psicoterapia.

 

Esse evento foi realizado em 17 e 18 de maio de 1996 no auditório do Museu da Imagem e do Som de São Paulo, contando com a presença de grande público. Sob a direção de Clemente Portella, a analista Carolina Ribeiro e os atores Odilon Wagner e Walmor Chagas fizeram uma leitura dramática de cartas selecionadas trocadas entre S. Freud, C. G. Jung e Emma Jung, dando, assim, início à programação.

 

Seguiram-se palestras e mesas-redondas, com representantes das duas escolas, aqui transcritas do modo mais fidedigno possível.  Acreditamos que este documento histórico possa servir como um marco no desenvolvimento da psicologia em geral e como estímulo para novos encontros.

revist ajunguiana 14Freud e Jung: Impasses e Ruptuda

Joel Birman

O autor faz uma releitura crítica da correspondência Freud/Jung enfatizando os sistemas de filiação, a metodologia e a diferença na transferência. Os fundamentos antropológicos dos autores são revistos, concluindo-se que, devido às diferenças insuperáveis tanto na formação cultural quanto na ética religiosa, a ruptura Freud/Jung seria inevitável.

 

Simbolismo e Interpretação dos Sonhos

Claudio Rossi; Nairo de Souza Vargas

O psicanalista Claudio Rossi faz uma apreciação das diferenças entre sonhos diurnos e noturnos sugerindo que diante de vivências e experiências emocionais conscientes nem sempre se pode ter a certeza de estarmos acordados ou adormecidos. O símbolo pode estar no lugar do simbolizado e o simbolizado pode ser proibido ou inconfessável. Mas quando o símbolo é a expressão de um sentimento ou intuição ele passa a ser symbolon, entrando a analise numa dimensão que o autor denomina de técnico-erótica. O analista junguiano Nairo de Souza Vargas considera o símbolo como a melhor representação possível de alguma coisa que não poder ser completamente conhecida e o sonho como um produto natural e espontâneo da psique, um auto-retrato espontâneo da real situação do inconsciente. O trabalho terapêutico teria duas etapas: a de associação e a de amplificação simbólica.

 

O Papel do Analista no Processo Analítico

Sérgio Telles; Liliana Liviano Wahba

O psicanalista Sérgio Telles afirma que ao interpretar e construir, que são as tarefas mais importantes no processo terapêutico, o analista está exercendo a função paterna, enquanto aquele que impõe a lei e a ordem simbólica. Ilustra suas ideias com um material clínico.

 

Para a analista junquiana Liliana Liviano Wahba, o papel do analista, ativado na relação analítica conforme a necessidade do processo e do paciente visa a apropriação da consciência de conteúdos reprimidos ou ignorados. O terapeuta utiliza-se de interpretação, associação e amplificação, reunindo significados por meio de símbolos, que aparecem via imagem ou metáfora, além da palavra.

 

Reflexões sobre o complexo de Édipo

Renato Mezan; Rodney G. Taboada

O psicanalista Renato Mezan considera o complexo de Édipo central na teoria e clínica psicanalíticas por pelo menos duas razões por funcionar como um organizador geral da vida psíquica do indivíduo e porque em torno dele é que se organiza a psicopatologia psicanalítica.

 

O analista junguiano Rodney G. Taboada situa o  complexo de Édipo num contexto mais amplo, levantando os inúmeros conflitos expostos nessa tragédia, e lembra que esse complexo foi considerado por C.G. Jung o primeiro arquétipo descrito mas não o primeiro ou único na história do desenvolvimento psíquico.

 

Narcisismo: Considerações Atuais

Plinio Montagna; Raquel Porto Montellano

O psicanalista Plinio Montagna faz uma revisão da história do termo narcisismo e de seu uso na psicanálise, lembrando que ele marca uma reestruturação da teoria freudiana sobre os instintos. Faz referência a nove formas de utilização do termo e ao desenvolvimento do conceito por Melaine Klein, Herbert Rosenfeld, André Green e Heinz Kohut.

 

A analista junguiana Raquel Porto Montellano revê o conceito de narcisismo da psicanálise e o contrapõe ao conceito de individuação de Jung. A partir do mito de Narciso e Eco e seguindo a descrição de C. Byington das funções estruturantes criativas  e defensivas, a autora descreve a polaridade narcisismo e  ecoísmo como funções estruturantes criativas e defensivas.

 

Correlaciona a função estruturante defensiva narcisista-ecoísta com o sadomasoquismo. A seguir, interpreta o mito de Eco e Narciso desde a normalidade até a desestruturação psicótica de suas personalidades, dentro da inter-relação criativa-defensiva da polaridade narcisismo-ecoísmo. Conclui citando Jung para ressaltar a importância da relação Eu-Tu no processo de individuação.

 

Arquétipo da Vida e da Morte –  Um Estudo da Psicologia Simbólica

Carlos Amadeu B. Byington

O autor elabora a posição dualista de Freud e dialética de Jung e Sabina Spilrein diante do Arquétipo da vida e da Morte por intermédio da conceituação de cinco posições arquetípicas da consciência (Eu-Outro): indiferenciada, insular, polarizada, dialética e contemplativa, cada uma, em duas atitudes, passiva e ativa. Para tanto, expande conceitos fundamentais da Psicologia Analítica e da Psicanálise, principalmente os conceitos de arquétipo e de defesa, num corpo teórico que denomina Psicologia Simbólica. A seguir, o autor associa sumariamente as cinco etapas da vida (infância, adolescência, vida adulta, maturidade e velhice) e essas posições da consciência, junto com os seus quatro arque’tipos regentes correspondentes: Arquétipo Matriarcal, e posição insular; Arquétipo Patriarcal e posição polarizada; Arquétipo da Alteridade (Anima e Animus) e posição dialética; Arquétipo da Totalidade e posição contemplativa. Especial ênfase é dada ao Arquétipo do Coniunctio, descrito de forma típica nas fases do processo por intermédio de quatro formas de expressão: Coniunctio Insular, Coniunctio Parental, Coniunctio Conjugal e Coniunctio Cósmico. Em conclusão, o autor descreve a função estruturante do Arquétipo da Vida e da Morte e seu papel na elaboração simbólica, sobretudo na passagem de uma fase para a outra, dando especial ênfase ao estado terminal a à discussão da eutanásia médica e da auto-eutanásia.