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Revista Junguiana 12

Revista Junguiana 12 – Dependências – Esgotada

Dogas, Vícios: Conceitos e Preconceitos

Dartiu Xavier da Silveira

revista junguiana 12É um estudo sobre os distúrbios alimentares e como cerceiam o desenvolvimento pessoal da mulher exatamente quando ela tem mais oportunidades de se expressar no mundo. As características anestesiantes destes distúrbios também alienam suas portadoras dos conteúdos simbólicos subjacentes, dificultando a compreensão de sua dimensão pessoal dentro do processo aditivo. A autora procura efetuar um resgate destes símbolos, tanto no plano da significação do alimento e sua ingestão desodernada, quanto na imagem corporal. Examina também alguns mitos e contos de fadas onde se encontram chaves elucidativas deste tipo de comportamento de fuga. Trabalha-se a hipótese de que os distúrbios alimentares estejam sugerindo problemas a nível da identidade feminina desconectada de suas matrizes. Propõe-se encontrar soluções na auto-maternação construtiva e na reconexão com o feminino arquetípico, de onde poderão surgir os contornos de uma nova mulher.

 

O Jogador

Liliana L. Wahba

O romance O jogador, de Dostoiewski, ajuda-nos a compreender a paixão vertiginosa que impulsiona para o jogo. O prazer pelo risco está envolvido, assim como a necessidade de sobrepujar-se e de desafiar o destino, levando ao isolamento.

 

O Enfoque Processual em Psicossomática

Mario Alfredo De Marco; Eliseu Labigalini Júnior

O artigo propõe uma discussão entre intervenções, a partir de uma perspectiva de estado e de uma perspectiva de processo. A experiência acumulada pelo atendimento a pacientes de uma instituição hospitalar é utilizada para constatar e exemplificar a distinção. O referencial arquetípico elaborado por Jung e desenvolvido por seus seguidores, com o descentramento que introduz na perspectiva do ser, constituirão a base principal de sustenção para a incursão, que focalizará o resgate da dimensão mítico-imaginativa, em seu papel de organizador processual, com um eixo fundamental nesta perspectiva.

 

Jung, Schiller: Por um Paradigma Ético-Lúdico

Amnéris Maroni

Se tivermos presente a contribuição de Schiller ao pensamento de Jung comprenderemos uma das questões mais insistentemente discutidas pelo psicólogo de Zurique, qual seja, a antinomia entre indivíduo e sociedade. No bojo desse diálogo far-se-á claro também uma das mais incisivas críticas de Jung ao cristianismo: a ‘ferida de Anfortas’. Descobriremos também o tipo de bálsamo proposto por Jung para essa ‘ferida incurável’: a natureza lúdica da fantasia ativa. O diálogo Jung-Schiller nos entreabre, talvez, uma possibilidade mais adequada aos anos 90, qual seja, o homem lúdico schilleriano. Aqui, ‘fazer experiências com o próprio ser’, ‘brincar’, ‘alcançar um estado de fluidez’, converge com uma idéia de personalidade sempre aproximada, jamais alcançada. Através do diálogo Jung-Schiller é possível reivindicar, para a Psicologia Analítica, um paradigma ético-lúdico.

 

As Duas Damas e a Perversão: As Máquinas de Medéia

Marco Antonio Spinelli

O autor realiza um passeio sobre duas temáticas polêmicas na literatura de Psicologia Analítica: a formação da Consciência e a Patologia (nesse artigo, a Perversão). Realiza, através de uma fábula, ou um teatro junguiano, um diálogo onde duas velhas damas conversam num cemitério atemporal, abandonado. M introduz o termo Máquinas Perversas, um termo que ela empresta do filósofo e psicanalista francês Felix Gattari. Para abordar a perversão, toma como ponto de partida uma abordagem genética calcada em Erich Neumann e suas duas grandes obras: ‘História da Origem da Consciência’ e ‘A Criança’, introduzindo as principais macroestruturas dessa jornada arquetípica para localizar o ponto em que a mesma está obstruída na perversão. M – usa o mito de Medéia para descrição do ego heróico aprisionado pela Mãe Devoradora no lugar de Filho Amante. A velha dama propõe que a raiz dessa prisão arquetípica é uma Consciência privada dos aspectos positivos dos arquétipos da Grande Mãe e Grande Pai.

 

A Árvore da Felicidade

Liliana L. Wahba

Esboça-se no artigo o conceito de felicidade e como ele é vislumbrado em diferentes contextos. A procura da felicidade, perfeitamente natural, cria uma ilusão de merecimento que pode levar a patologia sociais e individuais. Na análise, o tema da falta aparece associado à culpa, e o analista desenvolve defesas que o protegem contra sua própria frustração. Uma compreensão mais abrangente engloba a felicidade sentida e sua ausência, confrontando a tristeza e o sofrimento sem escamoteá-los, fazendo parte do viver.

 

A Missão de Seu Gabriel e o Arquétipo do Chamado

Carlos Amadeu B Byngton

O artigo analisa a criatividade e Processo de Individuação de Gabriel Joaquim dos Santos (1892-1985), um humilde operário, de ascendência índia e negra, que dedicou seu tempo à construção de uma pequena casa decorada com esculturas de flores, construídas com material encontrado no lixo. Ele orientou sua missão por sonhos, fantasias e pela ‘inspirada divina’ (sic), relatados à antropóloga Amélia Zaluar. O Arquétipo do Chamado é descrito e aplicado ao caso. O símbolo da casa é amplificado e relacionado com o Ego e o Self. O símbolo da flor é amplificado como mandala interligando as dimensões psicológica, estética e religiosa. Seu chamado é situado no dinamismo arquetípico de alteridade da consciência (Arquétipo da Alteridade, incluindo os Arquétipos da Anima e do Animus) e diferenciado dos padrões arquetípicos de consciência, matriarcal, patriarcal e de totalidade. A seguir, o autor tece considerações sobre a busca da identidade da Negritude Americana. Argumenta que seria um grande descaminho da busca da identidade da Negritude Americana que a escolha da idealização de um herói patriarcal (Arquétipo Patriarcal) como Zumbi para combater os estereótipos de subserviência às vezes representados por Mãe e Pai João fosse usada para desqualificar todas as expressões do Arquétipo Matriarcal e do Arquétipo da Sabedoria durante a escravatura. Conclui que o reconhecimento e cultivo dos Arquétipos Matriarcal, Patriarcal e da Totalidade são igualmente essenciais para a ideologia da busca da identidade da Negritude Americana, dentro de nossas sociedades multiculturais integradas pela Democracia, cujo principal arquétipo é o Arquétipo de Alteridade. Não exclui, com isso, a importância e o combate aos estereótipos da subserviência. Termina frisando a importância de sabermos separar criatividade, misticismo e psicose para podermos avaliar o valor da vida e da obra de seu Gabriel.