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Revista Junguiana 25

Revista Junguiana 25 – Psicopatologia – Esgotada

psicopatologiaA Depressão Normal e o Futuro da Civilização

Carlos Amadeu Botelho Byington

O autor descreve a depressão como a função estruturante enfermeira e coveira da psique. Como todas as demais funções estruturantes, ela pode ser normal ou fixada, isto é, patológica. A depressão normal faz parte, em maior ou menor grau, de toda elaboração simbólica. Ela se alia à função estruturante sacrificial e ao arquétipo da vida e da morte para elaborar o que precisa ser cuidado e preservado, ou velado, porque já morreu. Nesse desempenho, a depressão normal provoca o desânimo, no qual o ego se desapega de qualquer outra ocupação para se concentrar no apego à elaboração das feridas existenciais e no desapego ao que está morrendo ou já morreu. Ao elaborar os complexos fixados da sombra, a depressão normal se torna a grande aliada da função estruturante da ética na luta entre o bem e o mal. A fixação da função estruturante da depressão normal dá origem à depressão patológica. Nesse caso, o desânimo criativo se torna improdutivo e a enfermagem e o sepultamento do que já morreu se convertem em tortura pessimista e sádica, acompanhada por fantasias catastróficas de autodestruição. O autor atribui o crescimento endêmico da depressão planetária à ameaça de extinção da espécie pela sombra da civilização industrial de consumo, fartamente denunciada pela mídia, e à patologização da depressão normal pela psiquiatria, que incentiva o consumo indevido de antidepressivos e cerceia o exercício da depressão normal. Para concluir, o autor recomenda que a depressão patológica seja tratada com psicoterapia psicodinâmica e antidepressivos, visando não apenas a diminuição da depressão, mas o resgate da depressão normal. Acrescenta, também, que o uso indiscriminado dos antidepressivos para diminuir a depressão pode bloquear a depressão normal e a função ética no confronto da sombra e, por isso, deve ser considerado um procedimento médico antiético.

 

Depressão: A Dor na Alma de Quem se Perdeu de Si Mesmo

Maria Zelia de Alvarenga

A depressão, no sentido simbólico, é a melhor expressão da dor da alma que se perdeu de sua própria natureza. A alma como sopro divino dá a condição de a criatura fazer-se humana, ao atualizar as demandas para se transformar e trair o preestabelecido. A depressão pode ser vista como um estado de aprisionamento. Os seres vivos estão sempre em transformações físicas, psíquicas, socioculturais e noéticas. Quando as transformações não encontram espaço para se expressar, surge o sofrimento. A solução seria romper e, quando não se consegue, a depressão surge. A busca da possibilidade de refazer a ligação com o Self poderá ser feita por meio de um processo via logos espiritualizado, com o que se mobiliza a emergência de símbolos decorrentes das regências arquetípicas da sabedoria profunda. O mito de Orfeu é usado para explicitar a perda da coniunctio com a anima e a segunda busca de si mesmo por meio da sabedoria profunda. Essa busca pode ser traduzida também pelas questões kantianas: “Quem sou eu? Por que estou aqui? Qual o sentido da minha vida? Qual é minha responsabilidade diante de tudo que me cerca?”. A conclusão sobre o texto define a condição do entender que o perder-se de si mesmo, fundamento da depressão, encontra respostas, num segundo momento da vida, pelo conhecimento via logos espiritualizado e veiculado pela sabedoria profunda.

 

Os Erros Políticos de Jung

Vera Lúcia Colson Valente

O artigo faz uma rápida reflexão sobre os erros políticos de Jung quando era presidente da Sociedade Internacional de Psicoterapia, de 1933 a 1940, e que lhe valeram acusações de colaboracionismo com o governo nazista e anti-semitismo. Jung diagnosticou a possessão do povo alemão pelo deus ancestral Wotan, mas não tirou conseqüências políticas necessárias que o levassem a um posicionamento antinazista explícito e combativo.

 

Imagem Corporal na Adolescência

Núcleo BACO

A imagem corporal apresenta suas raízes no nascimento do indivíduo, mas é na adolescência que essa questão se torna premente do ponto de vista da consciência.

 

A distorção da imagem corporal é um sintoma comumente encontrado nos transtornos alimentares, e a insatisfação com a imagem corporal pode ser responsável pela realização de dietas indiscriminadas, abuso de métodos purgativos e prática excessiva de exercícios físicos em nossa sociedade. A mídia vem estimulando obsessivamente nossa cultura pela busca de um padrão ideal de magreza como garantia para a beleza e felicidade; sendo assim, torna-se importante o reconhecimento da situação de nossa população de adolescentes acerca de sua imagem corporal. Com este intuito o Núcleo BACO – Bulimia, Anorexia, Compulsão Alimentar e Obesidade, pertencente à Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica de São Paulo, realizou uma pesquisa com 238 alunos do primeiro ano do ensino médio de uma escola particular na zona Oeste da cidade de São Paulo, associando instrumentos de pesquisa que usam metodologia quantitativa com instrumentos de metodologia qualitativa. Verificamos o que os adolescentes pensam e imaginam a respeito de seu próprio corpo; avaliamos o grau de satisfação com a imagem corporal, a freqüência de comportamento de risco para transtorno alimentar. Concluímos que os jovens pesquisados apresentam em média IMC normal, 23% apresentam comportamento de risco para anorexia nervosa ou bulimia nervosa, 11% apresentam compulsão alimentar e 17% preocupação moderada ou grave com sua imagem corporal. Os adolescentes revelaram pensar positivamente sobre seu corpo, provavelmente porque correspondem às expectativas de saúde e beleza impostas por nossa sociedade atual.

 

Estress Pós Traumático

Iraci Galias, Nairo de Souza Vargas

O autor discute o TEPT desde seu diagnóstico, histórico, aspectos neurológicos, curso e prognóstico, tratamento e aspectos psicodinâmicos. São feitas correlações de conceitos atuais ligados ao TEPT, como CPT e resiliência, com os conceitos junguianos de restauração regressiva da persona, regressão simbólica e potencial de individuação. O autor frisa a importância clínica desse diagnóstico para as estratégias terapêuticas necessárias, como, por exemplo, o tratamento precoce.

 

O Último Vôo do Guerreiro

Lucy Penna
A análise de uma urna funerária pré-histórica da cerâmica marajoara revela intrigantes símbolos arquetípicos relacionados com a morte e o morrer. Comentam-se as possíveis relações entre as condições geofísicas da ilha e as projeções psicológicas sobre a fauna e a flora da região. A serpente, a coruja e outros animais semelhantes a pássaros estão ligados à idéia de um trânsito para algum tipo de dimensão celeste após a morte. Tais símbolos, que podem ser interpretados como provenientes da experiência primordial do unus mundus, ajudariam a desenvolver uma relação de inclusividade entre o ser humano e a natureza.

 

Manias, Temperamentos Afetivos e Criatividade

Luiz Paulo Grinberg

O autor revisa algumas teorias psiquiátricas e psicodinâmicas sobre o atual conceito de espectro bipolar enfocando sua relação com a função da temporalização. Algumas analogias são traça das entre a bipolaridade e as figuras mitológicas de Dioniso e Hermes. São abordados os aspectos positivos e negativos dos temperamentos afetivos e sua relação com a criatividade artística. Finalmente, algumas questões terapêuticas são enfocadas com base num modelo psicobiológico que considera a disfunção do relógio biológico como alteração fundamental na doença.

 

Um Olhar Diferente Para a Função Intuição

Ana Celia Rodrigues de Souza, Elza Maria Lopez e Sylvia Mello Baptista

O presente artigo visa apresentar uma nova forma de compreensão da função intuição em nuances nunca antes descritas. Propõem-se quatro formas de expressão dessa função de consciência, correlacionadas com quatro divindades míticas, a saber, Apolo, Dioniso, Hermes e Coré-Perséfone. A identificação nos relatos míticos, de características que qualificam os quatro tipos de intuição, amplia a possibilidade do uso da intuição discriminada no processo psicoterápico, importante instrumento para o indivíduo se saber, bem como para o analista em seu ofício de ajuda.

 

O Tédio ou Quando o Ego Procura um Deus

Victor Palomo

Este artigo busca fazer uma abordagem histórica do tédio a partir de suas raízes arquetípicas, enfatizando a importância que esse estado da alma ganha no contexto da modernidade. Busca também referências que tentam explicá-Ia na perspectiva psicológica, dentro da obra de Freud, Jung e nas categorias psiquiátricas descritas no DSM-IV, com o objetivo de traçar suas possíveis interseções com o consumo de massa. Finalmente, o autor faz algumas amplificações que aludem ao sentido do tédio e do consumo para o processo de individuação.

 

A Patologia da Arte e da Exclusão

Claudia Gadotti

Este trabalho propõe uma reflexão sobre os tênues limites que separam a patologia da criatividade, utilizando-se, para isso, da genialidade da escritora Clarice Lispector. Coloca a idéia da patologia como fenômeno associado à história da misoginia, buscando suas raízes arquetípicas no mito da criação e na figura feminina de Eva. Desenvolve também a relação entre essa misoginia no plano arquetípico e o sentimento de exclusão que vivenciamos nos mais diferentes níveis de relacionamentos.

 

Crises Conjugais: Riscos e Oportunidades

Marfiza Ramalho Reis

Considerando a difícil tarefa de conciliar conjugalidade e individualidade, buscamos neste artigo uma compreensão maior das relações amorosas. A paixão e o amor são vistos de formas distintas, e ambos como expressão emocional de um processo inconsciente, presente em cada um de nós. A paixão é considerada um intenso período criativo, em que a projeção do animus ou da anima explora possibilidades adormecidas no inconsciente. A relação conjugal é considerada como uma das vias que auxiliam o processo de individuação de cada um dos cônjuges, na medida em que, suportando conviver com as crises, confrontam as sombras pessoais e familiares. Assim, o casamento é visto como uma possível relação de alteridade e amor.

 

Revisitando Elêusis: Amplificação Mítico-Simbólico da Anorexia Nervosa

Maria Zelia de Alvarenga e Ana Célia Rodrigues de Souza

O objetivo deste artigo é rever o mito de Deméter-Coré Perséfone na sua totalidade, e que tem sido invocado como paradigma da psicopatologia simbólica dos quadros de anorexia nervosa. Deméter e Coré-Perséfone são facetas da mesma estrutura arquetípica. A transformação de ambas as deusas pode ser vista de modo especular e ocorre através da inter-relação criativa com o masculino interior (animus) de cada uma. Servindo-se dos desdobramentos do mito, como tentativa de imortalização de Demofonte, Triptólemo como sacerdote da deusa e difusor do trigo (presença de masculinos na vida de Deméter) e o retorno de Perséfone, nos mistérios de Elêusis com o filho Dioniso, propomos nova leitura simbólica para entender o processo mórbido da anorexia.

 

Tratando Estados Borderline de Personalidade na Terapia de Casal

Vanda Lucia Di Yorio Benedito

O presente trabalho pretende discutir o paciente borderline do ponto de vista de sua conjugalidade, seus parceiros conjugais e a dinâmica psicológica que se estabelece entre eles. A terapia de casal será o cenário de onde retiraremos a compreensão dessa díade que se apresenta com alto índice de agressividade. Dentro desse contexto, a proposta é desenvolver situações terapêuticas que possam levar os cônjuges à elaboração de seus complexos complementares destrutivos, favorecendo a transformação do ciclo vicioso de amor, ódio e agressão no qual estão envolvidos em um ciclo virtuoso de amor, ódio e reparação.