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SBPA | BOLETIM RAÍZES N.3 JULHO 2022

SBPA | BOLETIM RAÍZES N.3 JULHO 2022

UM COMENTÁRIO PSICOLÓGICO SOBRE NOTÍCIAS RIZOMÁTICAS

 

Bem-vindos ao Boletim Raízes. Este será o nosso espaço mensal para repercutirmos por meio do pensamento psicológico as notícias que consideramos mobilizar aspectos culturais brasileiros fundamentais para a individuação de nossos povos.

 

Nem todo homem estupra. Mas, neste mês, um médico homem foi flagrado estuprando uma mulher parturiente em um hospital. Nem todo homem mata por violência política. Mas, neste mês, um homem autodefinido como cristão e conservador matou outro homem por divergência política no sul do Brasil. Nem todo homem legisla em causa própria. Mas, no Brasil, cerca de 90% dos deputados federais são homens e aprovaram a criação de um orçamento secreto no qual se destina, sem transparência, dinheiro público para seus redutos eleitorais.

 

Em seu podcast República das Milícias, Bruno Paes Manso discorre sobre como seu objeto de pesquisa foi inicialmente a violência e, por meio de sua reflexão, desvelou-se como masculinidade e poder. O patriarcado, para Judith Butler, ou heteropatriarcado, para Paul Preciado, consiste em um sistema estruturante de poder que privilegia o homem branco (hétero) que ocupa hierarquicamente a figura de pai. Ele não é universal; antes, existem patriarcados particulares a cada povo e período histórico. A antropóloga Rita Segato chama algumas organizações de povos indígenas de patriarcado de baixa intensidade, em oposição ao patriarcado de alta intensidade trazido pela colonialidade europeia.

 

Nem todo homem defende ou sustenta o heteropatriarcado, tampouco sua intensidade. Todos, entretanto, se beneficiam dele. Nem todo homem abusa de seus privilégios ou aproveita de suas benesses. Mas todos os homens experimentam algum nível de privilégio patriarcal ao seu alcance. Nem todo homem reivindica o heteropatriarcado, mas é dever de todo homem que se levante e diga: não em meu nome.

 

Há uma erupção sombria incontida na masculinidade que aprendemos a partir do heteropatriarcado. Existiriam outras masculinidades possíveis, vindouras? Há um devir de homem que possa tornar obsoleto este que nos assola? Ou talvez nem precisemos mais nos chamar de homens? Nem todo homem é violento. Mas é sempre um homem.