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Revista Junguiana 21

Revista Junguiana 21 – Psicologia e Política




revista junguiana 21A Política

Maria Zelia de Alvarenga

O artigo parte do relato do mito de Protágoras, que discorre sobre a criação do homem, divisão de atributos e instituição da arte política necessária para que os homens pudessem conviver em sociedade. Os seres humanos, ao se exercerem pela arte da política, concorrem para o bem comum. Política e os novos paradigmas do poder e do relacionamento são requisitos do processo de individuação.

 

A Política da Metafísica

Tessa Moura Lacerda

Leibniz (1646-1716) não é considerado um filósofo político. A força da imagem ou metáfora política – a instauração, no seio do mundo natural, de um reino moral que funda uma sociedade dos homens com um Deus monarca – que coroa as teses metafísicas de importantes textos seus, no entanto, deixa advinhar uma maneira singular de pensar a política. Esta é remetida à metafísica como seu fundamento, o que leva a interpretar a Teodicéia, que trata da justiça divina, como a fundamentação teórica da política humana. Mas como os homens podem realizar a idéia de justiça que são capazes de conhecer na metafísica? A ausência, no pensamento leibnizano, de uma ciência ética acabada faz com que o papel do indivíduo que age, tateando em busca da felicidade, seja fundamental para pensar não apenas a moralidade, mas também a política. Esse indivíduo, quando se compreende parte-total do universo, passa a buscar a felicidade coletiva como sua própria felicidade. Eis a lição do indivíduo que alcança essa sabedoria: o amor.

 

Jó, Gaia e a Política do Bode Expiatório

Ricardo Hirata

A imagem de Deus é a instância legitimadora mais poderosa do universo psíquico. Como ela vem sendo, e ainda é, manipulada pelo Estado, a Igreja e a parcela rica da população interessada em manter o status quo é um objeto de análise complexo e polêmico. Porém, calar-se é compactuar, e assim como Jung teve coragem de revelar o lado sombrio desse Deus Summum Bonum, é preciso denunciar as patologias resultantes das ações que procuram extirpar o mal da realidade. A exemplo dessa política do uso do nome de Deus e da política do sacrifício do bode expiatório, buscou-se neste texto iniciar um diálogo necessário entre política, psicologia analítica e ecologia.

 

El Lado Oculto Del Voto

Axel Capriles M.

Las elecciones y el voto son mecanismos de influencia y control de las bases del sistema político hacia arriba. El voto, sin embargo, es un mecanismo de comunicación y control limitado. Además de que sus mensajes son breves y vagos, el voto es um instrumento que trabaja dentro de um área de oscuridad donde coinciden la sombra del elector y la del elegido, la debilidad y la ambición de poder. Necesitamos indagar sobre las motivaciones inconscientes de los electores, sobre los factores emocionales y afectivos que determinan la decisión al momento de votar, sobre los símbolos e imágenes del inconsciente coletivo. Que, más allá de la racionalidad individual, intervienen en los procesos de elección. La política es la ciência del poder y la pasión de mando es el reino por excelência de la sombra, el rincón de nuestra propia oscuridad donde se juntan la estupidez y el domínio. El presente artículo intenta dar cuenta de los aspectos sombrios detrás del voto, la identidad inconsciente entre lideres y electores o el peligro que en la psicologia de masas representa el atractivo que ejerce la inclusión de conceptos totales em el discurso político.

 

Poder e Amor: Sedução dos Mentores

Liliana Liviano Wahba

A atividade de mentores que se relacionam à orientação em geral e particularmente à supervisão de profissionais da saúde é o elemento central do ensino e do treinamento de procedimentos e de atitudes. Quem exerce tal função detém alta carga de poder, o qual necessita ser conscientizado, assim como desperta admiração e afeto, facilitando a sedução e a manutenção de estados de inconsciência. Quando a atividade é exercida isoladamente pode levar à inflação despercebida por colegas. Quando exercida em grupos ou instituições, acomoda-se a influências políticas que precisam ser consideradas e avaliadas. Uma reflexão sobre a ética e a problemática do amor e do uso de poder nessa atividade é realizada no artigo.

 

Psiquiatria e Política: A Psicopatia Individual e Coletiva no Naiconal Socialismo. Um Estudo da Psic

Carlos Amadeu Botelho Byington

Seguindo o Wotan, de Jung ( 1964 ), o artigo estuda pela Psicologia Simbólica a interação política normal e patológica do Self individual com o Self cultural, ilustrada pela sincronicidade da relação entre a personalidade de Hitler e a ascensão social do nazismo na sociedade alemã. Ele enfatiza a limitação da posição polarizada patriarcal dentro do princípio da causalidade racional para empreender esse estudo e preconiza a posição dialética de alteridade dentro do princípio da sincronicidade para fazê-lo. O autor descreve a indecisão vocacional de Hitler entre a pintura e a arquitetura e seu entusiasmo pela política e pela guerra que, exacerbados na Primeira Guerra Mundial, definiram sua vida e sua morte. O fascínio pela guerra, seu carisma na oratória, sua empatia pelo nacionalismo guerreiro e orgulhoso do Self cultural alemão e sua defesa psicopática desencadearam sua agressividade homicida suicida latente para liderar delinqüentemente e o nacional socialismo e assumir o poder, projetando o bode expiatório nos judeus e comunistas, numa sociedade humilhada, belicista, desestruturada e ameaçada pela Revolução Russa. Ao lançar a Alemanha na Segunda Guerra Mundial e empreender o holocausto, Hitler e o Self cultural alemão foram arrastados pelo furor homicida suicida para invadir a Rússia e proporcionar estrategicamente a matança de milhões de pessoas, e sua auto destruição, miticamente preconizados pelas lendas de Rienzi e do Anel dos Nibelungos.

 

Freud e Jung, Sexualidade e Conflito

Arnaldo Alves da Motta

O autor aborda a polêmica entre Freud e Jung em torno da questão da sexualidade, que foi um ponto central no conflito entre ambos, levando ao rompimento dos dois em1914. São retomadas várias passagens ao longo da obra dos dois analistas que reproduzem partes significativas do debate sobre o tema em questão. O artigo finaliza pontuando alguns aspectos que expressariam diferenças mais amplas de concepção, presentes na discussão sobre a sexualidade.

 

Pais e Filhos –  Uma Rua de Mão Dupla

Iraci Galiás

Neste artigo são discutidos alguns aspectos da relação pais-filhos, focados na importância do filho no desenvolvimento dos pais. A relação filho-adulto e pais é abordada tanto em seu sentido criativo como complicado, gerador de patologia. A relação filhos-pais é associada a outra mão da mesma rua onde a psicologia bastante tem discutido a relação pais-filhos. Daí o título: “Pais e Filhos – Uma rua de mão dupla”. A compreensão simbólica do ditado popular “Filho criado, trabalho dobrado”é buscada. Esse “maior trabalho” dado pelo “filho criado” é associado ao trabalhoso processo de recolhimento necessário que os pais precisam fazer da depositação-projeção dos papéis parentais arquetípicos de filho, Fm e Fp, sobre os filhos. Também são discutidos a função da idealização cruzada e o conseqüente jogo de poder cruzado entre filhos e pais. Algumas complicações desse processo de retirada das depositações-projeções pelos pais sobre os filhos são enfocadas pela sua importância clínica, a saber: os riscos dos avós, o risco da inversão de papéis entre pais e filhos e a adolescência tardia. É chamada a atenção para a importância do tema, uma vez que, com o aumento da vida média, a população com mais idade cresceu e sua problemática precisa ser mais bem compreendida.

 

Um Espaço Para o Jogo

Joanne Wieland-Burston

O paradigma junguiano tem em seu fundamento uma aproximação imaginativa e uma abertura para o jogo. O jogo de tabuleiro que desenvolvi é um tipo de psicodrama com objetos escolhidos e colocados em um tabuleiro de madeira. Dou especial atenção aos desenvolvimentos dinâmicos que emergem a partir da situação transferencial. O jogo do tabuleiro, como todas as experiências lúdicas, é uma abordagem profundamente experiencial, e permite trabalhar num nível mais profundo da psique do que aquele geralmente permitido pela terapia verbal.