fbpx

Revista Junguiana 19

Revista Junguiana 19 – Transformações

revista junguiana 19Brennand e o Detino Trágico do Homem

Olívio Tavares de Araújo

Nascido em Pernanbuco em 1927, o escultor Francisco Brennand vive no meio de um surpreendente conjunto de trabalhos, que ele criou e instalou em sua oficina de cerâmica a partir dos anos 70. Alguns equívocos o cercam, como considerá-lo um “artista brasileiro”. Brennand é decididamente universal e universalizante, fora do tempo e do espaço. O conjunto se parece mais com a Antiguidade Oriental que com qualquer outro momento da cultura.

 

Ainda mais inesperado é o universo que subjaz às esculturas, fundado no pessimismo, na angústia, na tragédia, ligado ao lado noturno da Grécia Clássica e a outras experiências dolorosas. A obra de Brennand trata das questões fundamentais do ser humano e de sua contingência, incluisive (senão sobretudo) a própria morte. A mesma carga se estende sobre a outra parte fundamental da produção, que gira ostensivamente em torno da sexualidade – uma sexualidade crua, não o erotismo. Brennand é um representante por excelência da “alma fáustica” de Spengler, nostálgico do infinito e o desejoso de superar sua finitude.

 

Carl Jung e Paul Klee: Lembranças e Imagens da Tunísia

Massimo Caci

Paul Klee e Carl Gustav Jung fazem uma viagem à Tunísia; Klee, em 1914, e Jung, em 1920. Ali, eles descobrem uma paisagem e uma maneira de viver que os predispõem a uma mudança interior decisiva. O autor apresenta e compara a narração das respectivas viagens feitas pelo pintor e pelo psicólogo, mostra como essa experiência renova em cada um deles a própria relação com o passado e a civililzação ocidental, e os abre a um tipo de experiência descrita por Henry Corbin como imaginalis, que os conduz a escolhas decisivas no rumo das próprias pesquisas. Estas escolhas modificam o equilíbrio criativo “dali-em-diante” e a prova disto é o desenvolvimento sucessivo das respectivas obras.

 

O Anjo Azul

Luiz Paulo Grinberg

O autor faz uma análise do personagem principal do romance O Anjo Azul, de Heinrich Mann, Professor Unrat. São abordados os aspectos negativos da paixão, seu lado sombrio, assim como a possessão pelo arquétipo da anima e a enantiodromia vivida por este professor que, de tirano obsessivo, transforma-se em libertino e bode expiatório de uma sociedade hipócrita.

 

As Mulheres que Caymmi Canta

Suely Engelhard

Percorrendo a obra do compositor, poeta e pintor Dorival Caymmi, buscamos reconhecer que Deusas, representantes dos princípios femininos, guiaram-no em sua inspiração e criação e, como em sua obra as mulheres ao serem retratadas, o revelam.

 

O Sofrimento da Falta de Poder na Psicoterapia

Mario Jacoby

Esse artigo discute primeiramente os vários aspectos das necessidades inatas de poder, a fim de melhor compreendermos a difícil experiência da falta de poder. Embora esse assunto (“Estou desesperado por não ser da forma que gostaria de ser, mas sou incapaz de mudar!”) em geral motive as pessoas a procurar ajuda terapêutica, este artigo lida principalmente com os diversos sentimentos de impotência experimentados pelo terapeuta. Muitos de seus problemas originam-se da expectativa de obter sucesso terapêutico – o que quer que isso signifique. Mas , devido à enorme complexidade de tal empreendimento envolvendo a alma humana, isso não pode estar sob o poder do terapeuta. Falhas parciais ou totais fazem parte dessa tarefa. Tudo depende da atitude do terapeuta frente a essas limitações.

 

O Papel da Mulher no Resgate da Grande Mãe em Nossa Cultura

Iraci Galiás

A autora discute, no desenvolvimento da mulher, a sombra de poder referida ao arquétipo da Grande Mãe. Enfatiza a importância da conscientização dessa sombra para o funcionamento da ética feminina. Ressalta a necessidade dessa ética para com o desenvolvimento da própia mulher e para com o outro. Usa a criatividade de nossos poetas para tecer algumas considerações sobre esse tema.

 

Psicanálise e Espiritualidade

Murray Stein

O autor considera as manifestações da espiritualidade na análise e faz uma distinção entre a espiritualidade positiva e negativa para definir o tipo de espiritualidade presente na análise. O envolvimento com o inconsciente inevitavelmente abre a porta para os fenômenos espirituais. Sonhos, transferência e sincronicidade devem ser observados como momentos singulares da espiritualidade na análise.

 

Ternura, Sexo, Dignidade e Amor

Carlos Amadeu Botelho Byignton

A partir da teoria arquetípica da história, o autor atribui a incapacidade da sociedade patriarcal de viver plenamente o amor adulto à repressão da sensibilidade e ternura dos homens e à repressão da dignidade das mulheres. Descreve a plenitude do símbolo do bebê e argumenta que o afastamento da sua convivência com o homem na família patriarcal mantém a repressão da ternura, da sensibilidade e da afetividade provenientes da formação machista de sua personalidade. Acrescenta que o correspondente na mulher patriarcal é a dificuldade de manter a sua dignidade devido à submissão que acompanha a repressão da sua auto-suficiência criativa e da sua sexualidade.

 

O autor prossegue e assinala que o desenvolvimento da sensibilidade e da ternura do homem na cultura patriarcal se fizeram defensivamente na sombra através da homossexualidade masculina e que o desenvolvimento da auto-suficiência criativa e da sexualidade na mulher ocorreram sombriamente através da prostituição.

 

Para terminar, o autor argumenta que o amor conjugal hetero e homossexual se desenvolvem junto com o amor social e o amor ecológico somente sob a dominância do arquétipo da alteridade e do arquétipo da totalidade e, por isso, interpreta o “mito do amor impossível” como a busca emergente do amor conjugal vetada pela dominância patriarcal ainda vigente.

 

O autor conclui que apesar da busca do amor conjugal estar desestruturando a família e a organização social patriarcal tradicional, sua realização é parte essencial da vivência da compaixão social e ecológica indispensáveis para a continuidade criativa do processo de humanização e da salvação de nossa espécie.