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Instituições

Instituições

Tito Cavalcanti
Psiquiatra, analista junguiana, presidente da SBPA

Uma instituição composta de pessoas adultas deveria resolver suas pendências dentro de certa racionalidade. Mas não é o que se verifica. Por quê?

O último congresso latino-americano de Psicologia Analítica abordou um tema que nunca deixará de ser atual, pelo menos quando se pensa uma instituição. Eros e Poder sempre se digladiam. E ambos têm e não têm razão. Essa tensão precisa ser suportada para que ambos os princípios, que estão em uma relação dialética, possam continuar em movimento constante, um em direção ao outro. Como uma substância mercurial, esse movimento dialético sempre se refaz. Se somarmos a essa dificuldade o aspecto sombrio de cada um desses pólos, chegaremos a um nível de complexidade e tensão maiores ainda. A tendência é a parada do movimento e o predomínio excessivo de um pólo sobre o outro. Qual o resultado?

Uma grande confusão, na qual os interesses pessoais tendem a se impor, mascarados de interesses coletivos. A relação com uma instituição não pode ser levada a sério além de certa conta. Não faz parte do rol das relações pessoais. Uma instituição pode ser compreendida como um instrumento que possibilita a troca de vivências e conhecimentos, privilegiando Eros. Infelizmente, o Poder pode ser um grande remédio para nossas frustrações pessoais. Conquistá-lo, pode apagar (temporariamente e superficialmente) feridas de auto-estima. O Poder deixa de servir Eros, e a relação se inverte. A sedução de Eros é usada sombriamente para convocar todas as pessoas ingênuas ou que já utilizam o “remédio” Poder. Elas sentirão aquele sentimento tão caro de irmandade, e se justificarão pelo uso de razões cabíveis que justificam as ações incisivas que julgam impreteríveis para uma instituição realmente democrática. Corajosos re volucionários lutando por justiça! Adentra-se o terreno do confronto e da imposição em vez do diálogo colaborativo e da confiança no outro. Quantas dissidências poderiam ser resolvidas sem quebra e separação? Ainda mais quando comprovamos diariamente a inexistência da verdade única, o que acarreta a convivência com a nossa limitação e desamparo. Contamos com os entes queridos e com as forças inconscientes para nos servir de fio de Ariadne nesse labirinto em que a vida tão freqüentemente se apresenta.

O que se pode fazer nessa situação? Pouco. Ou melhor, nada, a não ser que surja uma consciência grupal de todo esse processo. Porém, a tendência é o surgimento de rupturas. A tensão não é suportada, os opostos se dissociam e as posições tendem a se cristalizar e perder a mobilidade. Senex ou Puer, Eros ou Poder. Como refazer essa passagem? Como transformar essa conjunção adversativa em aditiva? Como suportar a tensão?